Há poucos dias atrás, ao sair do mercado, cheio de sacolas e
um pouco atrapalhado, notei que ao lado do supermercado, onde estava uma lata
de lixo, lixo oriundo do próprio mercado, estava uma senhora muito debilitada, mal
vestida e com a aparência de quem não se alimentou de forma correta, mas que
apesar de toda a sua debilidade, ainda tinha forças para catar algum resto ou
resquício de comida, papelão ou qualquer outra coisa que lhe renda
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe8o975PPRQZWCSuH32gMLrwRuTgc9ni21ikcFjHfWKnIlCM2f7hRvHUuc2vlJbSKmXoDaHJ0JIG0BhR-7Adpq2uKYmtFbTTulGBCJqYvxv4P7AJhoBv0fmF_5w5mynv1C35FF_bvM0yUD/s1600/pobres+e+o+natal.jpg)
Ver tal cena me remeteu a uma realidade dura, muito
discutida em plenários e muito discutida em congressos nacionais e
internacionais, mas sempre discutidas por engravatados, por pessoas que após o
debate, terão comida e terão água gelada, gente que não sente na pele.
Foi terrível a sensação que tive ao sair do mercado, cheio de
sacolas e ver aquela senhora levantar a cabeça e olhar de forma tão acanhada
para as sacolas, como se aquilo fosse a salvadora da sua realidade. Me senti
como um corrupto, que no meio tem
po de tentar fazer alguma coisa por aquela
senhora, ela ter ido embora, pela sua pressa, pela sua realidade dura.
Toda a situação me revigorou para vir aqui e escrever um
post sobre a imposição que sofremos no Natal, Natal que convenhamos, já não
existe mais, uma vez que Natal é uma data de cunho religioso, ninguém mais vai
à igreja e ninguém mais o celebra com o seu espírito primitivo de amor, paz e
compaixão.
Partindo para uma análise mais concreta da atual corrosão do
capitalismo na sociedade, através do consumismo, considerado o mau do século,
aliás, desse século e da metade do passado, devemos analisar três momentos
importantes da história do capitalismo, onde ambos, em datas tão distantes,
contribuíram para o atual estado de desigualdade.
O primeiro momento se dá nos primórdios do capitalismo, na
era feudal da Baixa Idade Média, na qual dentro dos feudos, se desenvolveu um
sistema de “rebaixamento”, onde uns trabalham e outros governam ou o termo
muito usado na história “uns trabalham, outros oram e outros governam”. Essa
situação dentro do feudo “Estado-Igreja-Trabalhadores”, viria a culminar a e a
brigarem ente si durante a Revolução Industrial Inglesa, que viria a confirmar
todo o status social desde a era do Mercantilismo e reafirmar o capitalismo
como o dono do mundo, pois a então burguesia brigou com a Igreja, que era
“contra” os seus preceitos, a classe trabalhadora, como sempre, continuou
trabalhando.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3bXsapSDACaAoeJBDwnyZnZ2FWAXQhnOG_yP3khfuwi0MlMiJ99HCodY-j65Q-j-xBbo2ssDhxDzpMOJq-e-kG4HxoTV_XJvrO9uX2ji1rWrcVTtwnAPH-QrWHhorwJk4mtEvSCh_neIO/s1600/Pai+Natal+Consumista.jpg)
O momento talvez mais importante e mais próximo de nós é o
pós-guerra da Segunda Guerra Mundial, a segunda fase do “estado de bem-estar”,
onde surgiria a Coca-cola, as propagandas “vintage” que até hoje nos
impressionam pela estabilidade passada nessa arte: “mulheres de maiô, carros e
bebidas”, a era da caneta e claro, das primeiras representações de São Nicolau
(se é que hoje alguém se lembra que esse é o verdadeiro Papai Noel, São Nicolau
deve estar esquecido nos templos de Roma), retirado da fantasiosa Lapônia e
levado para a América e então espalhado por todo o mundo como o bom velhinho de
vermelho. Foi nesse pós- Guerra que se iniciou a corrupta sociedade consumista
atual.
Mas ninguém quer falar de pobreza do Natal, aliás, essa é a
época do bom velhinho, que só leva presente para as crianças ricas ou as pobres
de classe média. A pobreza e a desigualdade são gritantes nessa época do ano,
onde as lojas apelam para o sentimentalismo das músicas e das personificações
natalinas, mas só compra quem tem dinheiro, quem não tem, se endivida ou passa
longe da vitrine.
A pobreza é crônica não só no Brasil, mas no mundo. Estado
empurra para o Governo, o Governo devolve para os estados, os estados repetem a
estratégia e então o Governo lança a “batata quente” para a ONU e os seus
órgãos que hoje são muitos, mas que ainda são dignos de certa confiança.
Fato é que agora os Congressos se fecham, as Assembléias se
fecham, os Parlamentos se fecham, os órgãos se fecham, o Mundo se fecha e os
corações se fecham, todos vão celebrar o Natal mediante um longo feriado, mas
não se esqueçam, no ano que vem tem mais pobreza, tem mais discussão e no meio
de tanto fechamento, os pobres esperam decisões governamentais, mas esperam de
barriga vazia.
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