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Os jovens na segunda metade do século XX.

Os adolescentes foram, desde a Revolução Francesa, uma máquina ideológica. Donos da vivacidade e da força de vontade, em toda a história já derrubaram reis, regimes e impérios coloniais.

Se voltando para o nosso vizinho, o século XX, notou-se a importância do movimento jovem na transformação do mundo.

A partir de 1950, ocorre o princípio da revolução cultural e social mundial, dessa vez um movimento não totalmente europeu. No final da década de 1980, os estudantes em universidades eram contados aos montes (Hobsbawm, Era dos Extremos, p.290) e são nesses dois fatores que vamos nos concentrar.

A revolução jovem alcança o seu auge nas décadas de 60, 70 e 80, inspirado pelo novo ritmo avassalador, o Rock, com os seus pioneiros Janis Joplin e bandas como Rolling Stones levaram os adolescentes a uma onda de abertura ideológica. O homossexualismo veio a público e tornou-se comum em uma sociedade de predominância jovem que não necessitava mais da velha sociedade, que pareceu ruir em meio aos destroços da Segunda Guerra Mundial.

Movidos por letras de músicas que pregavam a busca pela real essência da vida, os jovens tornaram-se anárquicos, anticapitalistas, anticomunistas e os maiores seguidores de uma nova ordem que esquecesse a ditadura da velha sociedade industrial, que agora parecia só ocupar as páginas dos livros de história e economia.

Pela primeira vez na história, levando em conta os estilos músicas com origem pobre (Rock, Blues, Jazz), quem ditava as regras eram os habitantes das camadas baixas da sociedade. Logo a calça jeans americana, popular entre os de classe média e classe média baixa, chegaria às universidades européias (principalmente na Grã-Bretanha) e no cotidiano da vida no Terceiro Mundo.

Se o Rock proporcionou uma cultura de alta qualidade, o Blues (derivado do jazz das primeiras décadas) veio para mostrar que o jazz negro não havia morrido somente dado espaço ao seu irmão mais descolado.

A grande revolução em prol de um mundo aberto às mudanças se ergueu sob slogans típicos de uma antiga minoria (jovens) que decidira mandar no mundo: “Quando penso em revolução, penso em fazer amor.” O surgimento das drogas, a grande ajudante na fuga de um mundo contaminado pela guerra comunista X capitalista, mostrou que “o limite entre ficar drogado e erguer barricadas muitas vezes parecia difuso.” (Hobsbawm, Era dos Extremos, p.327).

As universidades se multiplicaram por todo o mundo, com exceção de regiões da África e regiões dominadas pelo Fundamentalismo. O número de estudantes dentro das universidades no final da década de 1980 era inimaginável algumas décadas atrás. Países como o Brasil se tornaram pioneiros no ensino em massa.

Essa era a juventude da segunda metade do século: inspirados por estilos musicais, novas drogas como passagem para os mundos paralelos, aceitando o amor em todas as suas formas (só seriam parados após o surto de DST), sempre buscando a essência da vida, pregado pelos seus mestres do estilo pop moderno, sem claro, esquecer o seu ideal revolucionário e o seu papel numa sociedade que precisava “desencanar”. Tudo isso, claro, sem generalizar.




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