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Resenha: O Mulato, de Aluísio Azevedo

O Mulato é o segundo livro que eu leio do Aluísio Azevedo.

Quem acompanha o Blog sabe que eu já li O Cortiço e quem leu a resenha deve saber também o quanto eu gostei daquele livro. Eu gostei de O Cortiço por completo, já em O Mulato não aconteceu o mesmo.

Digamos que eu gostei do livro O Mulato em partes, ou seja, diferentemente de O Cortiço, ele não é uma narrativa que vai ser leve e que vai deixar tudo ali.

Foi o romance que inaugurou o Naturalismo no Brasil, mas é extremamente notável o quanto a narrativa ainda está presa no modo de descrição romântico. Vai ter determinados capítulos que vão cansar o leitor, porque o autor faz uso daquela análise minuciosa do ambiente. Essa narrativa vai oscilar bastante: em um dado momento ele vai usar uma descrição apurada e em outras uma mais superficial. Outra coisa que eu notei também, é que a intensidade e a minuciosidade dessa narrativa vão depender totalmente do fato que está sendo narrado.

Se eu tivesse começado a ler esse autor por esse livro, com certeza eu não teria gostado, passaria a gostar somente depois de ler O Cortiço.

A trama vai ser toda construída em cima de um episódio que ocorreu com uma família que mora em São Luís, no Maranhão que, aliás, é a cidade do autor.

José da Silva é um comerciante, casado com Quitéria Inocência. O casal sempre tentou ter um filho, é importante ressaltar que o romance se passa na época em que a escravidão não fora abolida e como todo romance naturalista, José tem os seus romances com Domingas, que é uma negra escrava, da sua propriedade.

Mas José cultivava um amor verdadeiro por Domingas, que era aquele ideal de ser de bondade, enquanto Quitéria é descrita como uma mulher muito má, com a mentalidade de repreensão aos negros e tudo mais. Enfim, José engravida Domingas e é dessa gravidez que virá o mulato, que se chamará Raimundo.

Um personagem que está presente desde o começo da narrativa é o Cônego Diogo, Na minha opinião, Aluísio criou nesse personagem a crítica mais ferrenha ao clero feita pela literatura, ele deixa muito em evidência o seu anticlericalismo. Cônego Diogo é um homem que é totalmente o inverso do que aparenta e ocupa um papel importante na narrativa: se José da Silva traía Quitéria com Domingas, Quitéria  traía José com o Cônego.

Fato é que o mulato nasce e Quitéria toma conhecimento do fato. José com receio que ela mate a criança, decide levar o filho para o irmão cuidar na cidade e é na volta dessa ida a cidade que José vai descobrir a traição. José deixa bem claro para o seu irmão, Manuel Pescada, que quer que o filho tenha tudo e que não falte nada. Mas José da Silva acaba morrendo devido a um fato X aí que vocês vão ter q ler para descobrir.

A trama agora se passará anos depois, na casa do irmão de José, Manuel Pescada. Manuel
Pescada mora em São Luís, juntamente coma sua filha Ana Rosa.

Toda essa longa descrição que é necessária a resenha constitui, para vocês terem ideia, as cem primeiras páginas, a partir daí aparece o mulato já como homem.

Sem mais delongas, para quem já leu as minhas resenhas sobre o Romantismo: de um lado um mulato bem estudado, recém chegado a cidade, do outro uma família tradicional, tendo como chefe Manuel Pescada, juntamente com a sua romântica filha Ana Rosa, uma menina jovem e em busca do seu primeiro amor. Detalhe: essa família vai tentar esconder ao máximo o seu preconceito para com os negros. Vocês já devem imaginar o que vai acontecer.

Concluindo, não gostei muito desse livro. Apesar de ser o livro que inaugurou o Naturalismo do Brasil, ele apresenta bastantes características românticas, principalmente na escrita, o que para quem já estava acostumado com o Realismo, é meio chato.

Vai ter partes boas sim, mas não vai ser bom em um todo, no conjunto da obra. O final dele, sem spoiler, vai ser uma afirmação naturalista da superioridade do real em oposição ao romântico. Colocando em termos de escola literária, o Naturalismo afirma o Realismo sobre o Romantismo.

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