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Mais que um bom livro, uma vasta fonte histórica sobre a vida sertaneja. Inocência, de Visconde de Taunay.

Oi, pessoal do Blog!

Hoje eu vou trazer aqui a resenha do livro Inocência, do autor brasileiro Visconde de Taunay. Bom, bem como diz o título, esse livro que pertence à época do Romantismo, porém, devido ao seu final e a sua narrativa, já está passando para o Realismo, é uma vasta fonte histórica dos costumes sertanejos da região do Mato Grosso e Minas Gerais. Se Alencar retratava os costumes da corte como ninguém, Visconde de Taunay retratava os costumes sertanejos da mesma forma, porém com mais detalhismo e a mais riqueza, mas isso eu explico depois.

O livro nos trará o personagem Cirino, um médico que não é formado, que anda pelas cidades e vilas a curar enfermos. Em uma de suas viagens, conhece Pereira, um sertanejo tradicional, dono de terras e que tinha uma filha chamada Inocência que sofria de um mal. Posto de frente a um médico, não hesitou e acolheu o mesmo em sua casa para tentar curar a filha.

Como toda a trama se passa no tradicionalismo, Cirino recebe uma exceção máxima da parte de Pereira, o direito de ver sua filha, já comprometida com um também sertanejo, Manecão Doca. Adivinhem o que acontece então? Nasce um amor proibido. E o pior era que o tempo ia passando e Cirino cada vez mais adquiria confiança da parte de Pereira e ao mesmo tempo o traia amando a sua filha.

Voltando um pouco a escrita, gostaria de ressaltar a narrativa usada pelo autor. Contém muitas gírias mineiras nos diálogos e novamente digo, é uma narrativa rica em história e justificando o que disse antes, Taunay parece escrever mais realisticamente o regionalismo do que Alencar (sem menosprezar Alencar), mas o fato já tinha sido percebido antes, quando o próprio Taunay, sem o objetivo de ofender José de Alencar, disse que o mesmo escrevia sem ao menos ter visitado determinado local, que o mesmo escrevia em uma sala, numa escrivaninha e o conhecimento relatado era oriundo de livros. O que não é o caso de Taunay, que foi um militar que esteve presente na região que retratou em Inocência, isso pode-se notar nas notas de rodapé que foram escritas pelo próprio autor, esse conhecimento prático que Taunat retrata, fez com que a sua obra se tornasse uma fonte muito rica sobre os costumes dos sertanajos, desde os casamentos, até o zelo com seus parentes.

Falando em escritas de segundos contidas no livro, é muito interessante o uso que o autor faz de frases de escritores clássicos no começo de cada capítulo, como por exemplo, Miguel de Cervantes, Ovídio, Molière, Walter Scott, Shakespeare, entre outros. Em contrapartida, nota-se uma forte influência dessas frases nas resoluções do capítulo, por repetidas vezes, Taunay empregou Romeu e Julieta, de Shakespeare e no capítulo retratou no enredo algo muito semelhante ao que estava na frase, há momentos em que esse “copiar” se torna muito visível e isso, para certos leitores, se torna uma forma de criar um romance ou cena de bases já estruturadas por segundos.

Mas Taunay escreve muito bem, são poucas e não raras as vezes em que isso acontece, mas deve ser relevado, pois outros autores simplesmente copiariam, Taunay ao menos nos revela a sua corrente de inspiração e ao final do livro nos fornece uma rica lista de livros para ler.
O livro é bom, é um dos melhores livros regionalistas que eu já li, vale muito a pena essa leitura, que te deixa mais a par da gírias e costumes de uma determinada região me um determinado contexto histórico.

Espero que tenham gostado do post e que leiam o livro. Críticas e sugestões, deixem nos comentários! Curtam a Page e sigam o Blog!

Até mais!


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