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Resenha: Era dos Extremos, O breve século XX 1917-1991, de Eric Hobsbawm.

Comecei essa leitura no início de Dezembro e entre recaídas  (o livro se torna pesado às vezes, e entusiasmos) terminei a obra com um bom entendimento.

Nessa que foi uma das suas consagrações, Eric Hobsbawm nos apresenta o Breve Século XX, com a máxima histórica (e vantagem), de ser escrito por um indivíduo que viveu o mesmo. Eric Hobsbawm detalha os fatos mais importantes, personagens consagrados, teorias econômicas e políticas divergentes de uma forma escopa, com riqueza de análise e profundidade nas suas teorias.

Os fatos são analisados a partir da Revolução Bolchevique de 1917 e se encerra com o fim da União Soviética, em 1991.

As análises dos fatos são feitas em várias frentes, são analisados não somente de forma política, mas também econômica e os impactos produzidos na sociedade, dando a obra todos os conceitos fundamentais da história.

Muitas análises são requintadas por notas de rodapé do próprio autor nos contando da sua vida pessoal no determinado momento em ocorria o fato. No primeiro capítulo, Hobsbawm nos apresenta uma cena do seu cotidiano associado a um fato histórico importante: “Para este autor, o dia 30 de janeiro de 1933 não é simplesmente a data, à parte isso arbitrária, em que Hitler se tornou chanceler da Alemanha, mas também uma tarde de inverno em Berlim, quando um jovem de quinze anos e sua irmã mais nova voltavam para casa, em Halensee, de suas escolas vizinhas em Wilmersdorf, e em algum ponto do trajeto viram a manchete. Ainda posso vê-la como num sonho.” . A obra não nos proporciona somente conhecimento, mas também emoção.

Diferente do que muitos críticos direitistas costumam afirmar sobre Hobsbawm e principalmente sobre essa obra, é a sua inclinação ideológica (marxista) forte, presente na obra. Em parte estão certos, em outra errados: Hobsbawm condena as conseqüências do Stalinismo para a União soviética e os esforços errôneos e as tentativas precipitadas e fracassadas de Mao, na China, mas é inegável que narra, em poucas vezes, determinados fatos sempre ligando-os à União Soviética, o que tecnicamente, não é um erro que compromete o entendimento.

Quanto à escrita, como disse, nos proporciona em determinados momentos (quando convém), risadas (para os entendedores de sarcasmo intelectual) e momentos que vão de descontração, como nos excelentes capítulos “Artes” e de atenção, como em “Contra o inimigo Comum”, “Socialismo Real” e “Fim do Socialismo”.

Não é fácil sistematizar um século inteiro de fatos, portanto o autor organizou a obra em três partes: “Parte um: A Era da Catástrofe”, “Parte dois: A Era de Ouro” e “Parte três: O Desmoronamento”, nos trás ainda, no final do primeiro e do segundo, ricas análises da situação das artes e no final do último, uma análise das ciências.

No final do livro, nos presenteia com um importante índice remissivo, no qual apresenta os melhores e mais importantes livros para aprofundamento no tema e livros oficiais de estatísticas globais.

Eric Hobsbawn soube de todas as formas e contextos analisar aquele que foi o século mais breve e destruidor de todos os tempos.

“Não sabemos para onde estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto e -se os leitores partilhem da tese deste livro- por quê. Contudo, uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro reconhecível, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança na sociedade, é a escuridão.”
                                                    Era dos Extremos, O Breve Século XX, Eric Hobsbawm.





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