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Meio crônica: O amor segundo a literatura.

Temática base para quase toda a produção artística, o amor é e foi ao longo de toda a literatura, não um norte, mas um caminho sempre seguido pelos principais autores.

Longe de competir, antes mais complementar, o amor se entrelaça nas mais variadas temáticas. Desde as Guerras Napoleônicas em Guerra e Paz, de Tolstoi, as personagens dramáticas de José de Alencar e as realistas e ambiciosas de Machado de Assis, até a literatura atual dos contos fantásticos e livros que flertam com mundos paralelos e realidades que não existe, o Amor como ele é, ou seja, uma confusão de sentimentos e desejos se mostra presente e até mesmo dominante.

Desde os primórdios de toda a humanidade, os letrados parecem dedicar boa parte do seu tempo em expressar em palavras as ambiguidades do sentimento Amor. A literatura universal, e quem a conhece saberá confirmar, constitui um guia teórico como nunca antes visto sobre as abstrações do Amor.

A literatura é capaz de fornecer uma série de situações entre duas pessoas (notem que são pessoas, pois a liberdade cai muito bem ao mundo da arte), quem tem contato com esse guia que, acredito, está a disposição de qualquer interessado, não terá somente uma série de estratégias para lidar na prática, como também terá uma gama de exemplos a serem seguidos e é claro, evitados.

O mais curioso de tudo é que, contradizendo o que escrevi no começo do texto, o amor é um fato determinante na literatura e é porque em si é determinante na vida da sociedade, sendo a literatura uma arte que se ocupa em colocar no papel o atual, mesmo que paralelamente. Voltando a contradição, nos romances nada se desenvolve longe da linha das relações, até mesmo um monólogo não é capaz de fugir de uma ou outra lembrança de uma relação. Em um romance histórico, não há partida do fato histórico em si, mas sim de uma relação de amor que tem como plano de fundo, um acontecimento histórico, prova disso, é o sensacional O Tempo E O Vento, de Erico Veríssimo.

Usei a contradição nesse texto porque decidi escrever sobre o Amor e talvez a contradição seja inerente ao mesmo. Nada teria graça se fosse cheio de segurança e repleto de verdades absolutas, aliás, se isso representasse o amor, não seria amor, seria convicção. Escrevo que amor e contradição se completam porque o amor não é feito de certezas, nem obedece a convenções, muito menos a imposições sociais, sendo assim, contradizer-se no amor é a forma mais sincera de mostrar que ama.





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