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Resposta de Dostoiévski a uma crítica que qualificava o seu personagem como irreal.
Desconstruindo a imagem de volumoso, rebuscado e repleto de
convites a altas reflexões, a primeira parte do romance do russo Fiódor
Dostoiévski se mostra uma narrativa não densa, mas contínua e que é capaz de
envolver o leitor em todos os sentidos.
Com um cenário muito bem construído, a primeira parte do
romance se dá na enevoada São Petersburgo, onde Dostoiévski descreve desde os
seus transeuntes e os coches, até os bêbados miseráveis e desesperados como o
pai de Gánia.
Dostoiévski apresenta na obra a imagem do perfeito idiota,
mistura de Cristo e Dom Quixote, figuras pelas quais o autor guardou grande
admiração. Míckhim é ao mesmo tempo homem, porém dotado de uma infantilidade
doce, não confusa nem desconecta da sua
realidade. A personagem apresenta perfeito conhecimento da sociedade em que vai
se relacionar e o mesmo faz uso de meios encantadores de persuasão, que são,
dada a obra, inerentes a personalidade da personagem.
Nastácia Filípovna, personagem que, na primeira parte do
livro, chega ao ápice e ao seu objetivo de cinco anos dentro de uma sociedade
suja e corrupta composta por chefas de família e mulheres anfitriãs bem
vestidas, protagoniza uma das cenas mais famosas da literatura ocidental,
quando contradiz todo o seu caráter e quebra todo o conceito construído em cima
de si quando joga um pacote de dinheiro no fogo em um lance de total loucura
que é a mescla de excitação e liberdade para o seu real destino.
A primeira parte do romance se resume, porém não se limita, a
chegada de Mickhím à Rússia, as suas apresentações e a apresentação da
personagem Nastácia Filípovna, bem como acontecimentos e relações entre
personagens que dão a entender que determinaram os acontecimentos da segunda
parte.
Ainda sobre o personagem central, o idiota ou simplesmente o
príncipe Mickhím, parece manter uma contradição entre a sua aparência e a sua
personagem. Nas apresentações, todos receiam o que poderia querer um homem com
aparência estranha, recém chegado de um tratamento para epilepsia na Suíça.
Logo, Míckhim sabe persuadir da forma mais inocente, usando a sua simplicidade
e carisma que encanta a todos.
Duas cenas em especial, me chamaram a atenção para a riqueza da
sua narrativa que foi capaz de provocar extremas emoções: a cena na casa de Gánia,
com Nastácia Filipovna e a reunião do aniversário dela, na casa da mesma.
A primeira, pela sua agitação, que começa com um lance
descritivo rápido onde o autor descreve o ambiente e os personagens,
posteriormente partindo para ricos diálogos. Nessa primeira cena, as emoções e
o ambiente de tensão na casa de Gánia podem ser sentidos.
A segunda cena, marcada pela loucura de Nastácia Filípovna,
é capaz de fazer o leitor sentir o ambiente de tensão e receio que paira sobre
todos os convidados em relação aos atos da personagem.
A maestria descritiva das duas cenas, a descrição rápida e
ao mesmo tempo minuciosa, desperta no leitor o turbilhão de sensações, com
destaque para a ansiedade e o receio.
Ainda na cena da festa de aniversário de Nastácia Filípovna,
outra crítica fica clara, o quanto a sociedade presente foi capaz de mudar os
seus conceitos em relação a Míckhim quando souberam que o mesmo receberia uma
herança de uma tia.
Dostoiévski é capaz de nos prender a sua obra e
transportar o leitor para o seu mundo e ao que parece com os seus sentimentos e
um pouco das suas angústias em relação a uma sociedade e o seu carisma por alguns
personagens históricos.
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