Dom Casmurro, seria até desnecessário dizer, é um clássico
da literatura. Sim, da literatura universal, não somente da brasileira, pois é
um dos poucos livros da literatura brasileira que são conhecidos (muito
conhecidos) internacionalmente.
Com uma escrita pretensiosa, altamente incisiva e crítica à
sociedade (e também as emoções do homem), Machado de Assis traz os dois
personagens, traz a paixão de infância, capaz de tudo, Capitu e Bentinho. Ambos
se conheciam desde pequenos, moravam em Matacavalos, um bairro que equivaleria a
uma classe estável. Como escrevi, foram criados desde cedo juntos e aprenderam
ou melhor, cativaram desde muito cedo o carinho mútuo e o amor recíproco,
consequentemente, o senso de domínio. Um era posse do outro e qualquer ameaça
ao território de um deles era motivo para desconfianças e imediatas
retaliações: olhos dissimulados e rápidos períodos sem se falar.
As desconfianças vinham desde que os personagens eram pequenos.
Logo na infância, quando Capitu atingiu a sua mocidade, Bentinho já se mostrava
possessivo, prova disso é o dado momento em que o mesmo sente vontade de
agarrar Capitu e fazer todo o seu sangue
escorrer com as unhas, um pensamento precipitado para um seminarista de quinze
anos. "Mas o amor tem dessas partes", (usando as palavras do mestre), logo o pólo
se invertia e Bentinho voltava às carícias meigas.
Era previsto, quando Bentinho conseguiu sair do seminário,
casou-se com Capitu, o que iria parecer ser o ápice, foi realmente. Mas os anos
passam e novamente, “O amor tem dessas partes”, tem também as suas fases,
surgem os ciúmes, as desconfianças, tudo em contraponto a um passado amoroso, o
qual prometia a eternidade igualmente bela.
Não vou mais detalhar nada do enredo em si. Escrevi o que eu
sabia sobre o livro antes de ler, pois a graça em é ir descobrindo fato por
fato.
Sobre a escrita só posso reafirmar o que escrevi sobre os outros
livros desse mesmo autor, porém, agora já posso escrever com mais segurança
sobre esse ponto. Sensacional como esse cara sabe lidar com o tempo, expressar
o tempo. Parece que as palavras deslizam, em certos momentos parece ser
possível ouvir a voz do próprio narrador-personagem. Não posso deixar de
escrever novamente sobre o tempo: infância, juventude e fase adulta são
narradas de uma forma tão particular. A leitura é tão boa e tão real que a
transição de uma fase da vida pra outra se torna imperceptível. Machado não
deixou um problema somente para os críticos de literatura, mas também para
qualquer um que queira expressar o que se passou nesse livro e o que se sente
durante a leitura.
A ambiguidade é algo muito presente em todo o livro. Claro
que não vou escrever todas aqui, mas é notável como há frases que se completam
em parágrafos distintos e frases que fazem alusão a outro fato já relatado ao
que vai surgir mais pra frente. A discussão sobre se a Capitu traiu Bentinho é
resultado de dois fatos que ao se completarem tornam-se ambíguos. Mas eu não
atribuiria a qualidade da obra somente à ambiguidade, mas sim a tudo que já foi
citado nessa resenha, ao conjunto inteiro da obra, a isso se deve o status de
clássico.
Enfim, o livro é muito discutido e muitos trabalhos já foram publicados, sendo dois os mais interessantes e citados na introdução da edição, são eles: um brasileiro, comandado por José Olympio, chamado “O Enigma de Capitu” e um internacional, comandado por Helen Caldwell, “The Brazilian Othello of Machado de Assis- A Study of Dom Casmurro”.
Enfim, o livro é muito discutido e muitos trabalhos já foram publicados, sendo dois os mais interessantes e citados na introdução da edição, são eles: um brasileiro, comandado por José Olympio, chamado “O Enigma de Capitu” e um internacional, comandado por Helen Caldwell, “The Brazilian Othello of Machado de Assis- A Study of Dom Casmurro”.
E Capitu, traiu? Não sei, ninguém sabe. Na verdade, já
tinha minha opinião formada: Capitu traiu. Mas fui com versar com uma amiga e
ela me lembrou dois fatos que eu ignorei, mas que são muito importantes: o
livro é escrito em primeira pessoa, ou seja, demonstra somente um lado da
história e o ciúme, que é capaz de criar ilusões cabíveis somente ao apaixonado.
Mas tenham calma, logo formo minha opinião e talvez faça um post somente sobre
a minha opinião e os meus argumentos.
Concluindo, um livro sensacional e um dos melhores que eu já
li. Acho que todos deveriam ler devido ao conteúdo reflexivo sobre a sociedade,
suas relações e os sentimentos que elas envolvem.
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