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Projeto dos Contos 10/12 e 11/12: O Caso da Vara + Noite de Almirante.

Estamos quase finalizando o Projeto dos Contos aqui no Blog. Hoje novamente eu vou fazer um post para dois contos, não que eles estabeleçam relação de interdependência, nem nada, mas realmente para adiantar, não que eu esteja com pressa. O Alienista, na introdução da edição, já dizia que era mais uma novela do que um conto e que havia uma discussão sobre isso, enfim, O Alienista é um pouco mais comprido, então talvez hoje eu faça esse post com dois contos e poste o último somente sábado.

Eu gostei muito do final de O Caso da Vara. posso dizer para vocês que quando foi apresentado no cenário aquele meninos fugindo do seminário, aí ele procura ajuda na casa de uma senhora, Dona Lucrécia, amiga do seu padrinho, mas enfim, que Machado diz que essa tal senhora tinha quarenta anos, mas aparentava vinte e sete, eu achei que teria uma relacionamento entre Damião e essa senhora. Deve ser influência do outro conto.

Mas enfim, Damião é um dos muitos meninos obrigados a ir para o seminário. Ao tentar fugir ele se vê sem saída e busca então ajuda na casa dessa senhora, a Dona Lucrécia. Ela tem em casa como se fosse uma escola de bordado e em dado momento da narrativa, vai acontecer algo com uma de suas alunas, uma menina negra que se distrai e que no final ela vai ser castigada. Esse castigo vai envolver Damião, porém, Damião já havia estabelecido um afeto por essa aluna, mas nada de safadeza, era só um afeto.

É nesse castigo, ou melhor, da participação do Damião nesse castigo, que vai partir a crítica à escravatura. O conto que é escrito em terceira pessoa é uma crítica, mas uma crítica também ao personagem, que é como se fosse a sociedade. Enfim, eu gostei do final, gosto de todos os contos que ele deixa essa crítica contra as diferenças. Na introdução dessa antologia, já diz que o recurso de descrever as emoções humanas usado por Machado já é uma forma de igualar a todos, pois todos tem sentimentos.

Noite de Almirante não foi tão bom quando O Caso da Vara. Também narrado em terceira pessoa vai trazer a promessa de amor entre o marujo Deolindo e as ua amada que é uma idealização desconstruída da mulher romântica, na minha opinião. Desconstruída porque no próprio conto diz que ela é cândida e tudo mais, mas a traição da promessa vai partir dela e em dado momento ela vai se relacionar com outro homem.

Essa traição vai se dar durante a ausência de Deolindo, aliás, a jura de amor foi feita por causa dessa viajem de Deolindo, seria uma forma de manter os laços. Mas Deolindo volta da viajem e encontra a sua amada em outro relacionamento. É nessa parte que Machado retrata aquela dissimulação da mulher, não vou dizer porque, vocês vão ter que ler para saber.

Enfim, a graça está na expressão "noite de almirante", que na gíria seria toda aquela emoção do marujo de encontrar a amada após a viajem e que na verdade não foi nada disso. Novamente, é no final que vai ter aquele acontecimento que vai reforçar aquilo que o Machado fez nos outros contos, entre o que é real e o que é necessário mostrar à sociedade, mas dessa vez a vergonha vai estar junto. Enfim, só lendo para entender.

Bom, esse post resenha até o penúltimo conto, no próximo post já é o final do Projeto.

Espero que vocês tenham gostado. Compartilhem!

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